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Arquitetos: ARQBR Arquitetura e Urbanismo, BLOCO Arquitetos, Estúdio MRGB
- Área: 2276 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Joana França, Julia Totoli
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Fabricantes: Art D'Ville, Light Design, Surya Ecodesign
Descrição enviada pela equipe de projeto. O complexo do "Na Praia" foi idealizado como um centro de entretenimento à beira do Paranoá, o lago artificial que circunda o Plano Piloto de Brasília. O acesso público e direto ao lago, no entanto, ainda é muito limitado atualmente, apesar de projetos de qualificação da orla e esforços recentes do poder público. A singularidade do "Na Praia", portanto, está amparada na intenção de se apropriar definitivamente de parte do imenso espelho d'água que margeia parte do projeto urbanístico tombado e transformá-lo em uma espécie de "litoral" na Capital Federal.
Parte das construções do complexo é cenográfica, pois tem caráter temporário, com sua duração limitada ao calendário de eventos. Seu desenho está ligado à criação de “cenários”, cujos temas mudam a cada temporada. A outra parte do complexo é composta por infraestrutura fixa e edificações permanentes. Para projetar a porção permanente, com vistas a valorizar a escala Bucólica da cidade sem que a inserção de um equipamento dessa natureza viesse a descaracterizá-la, a empresa responsável pelo empreendimento se dispôs a selecionar e contratar escritórios de arquitetura que, segundo seu entendimento, estivessem alinhados a esses mesmos princípios. Os escritórios BLOCO Arquitetos, Estúdio MRGB e ARQBR foram, portanto, convidados a elaborar alguns dos projetos arquitetônicos que constituem a parte “fixa” do Na Praia.
Ao BLOCO Arquitetos foi atribuído o projeto da Barraca de Praia, ao Estúdio MRGB, o Pavilhão de Acesso e, ao ARQBR, a Loja e Cafés, Vila Gastronômica e o Bar, que completam o conjunto gastronômico do parque.
Conversas e discussões preliminares entre os arquitetos resultaram em algumas premissas que orientaram a elaboração dos respectivos projetos em busca de se estabelecer, respeitadas as abordagens projetuais individuais, soluções que expressassem austeridade e unidade do conjunto edificado por meio da adoção de um linguagem arquitetônica contemporânea à luz de materiais sustentáveis integrados a um sistema construtivo ágil e racional capaz de responder às várias demandas dos diversos agentes envolvidos no processo. Os grandes limitadores para as escolhas que foram feitas nessa fase foram o curtíssimo prazo reservado para a construção (100 dias) e a relação entre orçamento previsto e a disponibilidade de materiais e mão-de-obra naquele momento. Assim, foi selecionada a estrutura metálica essencialmente composta por perfis tubulares soldados, como solução construtiva mais adequada diante das condicionantes, das limitações de custo e tempo disponíveis para a execução da obra. Para a criação de elementos de sombreamento, forros ou usos estruturais pontuais, foi escolhido o bambu natural.
De igual maneira, vale ressaltar a valiosa contribuição do projeto de paisagismo na construção da unidade do Na Praia. A maior parte das árvores nativas foi mantida e outras espécies de árvores cerrado foram inseridas em combinação com vegetação exótica e palmeiras que se adaptassem bem ao clima local. Elaborado pelas arquitetas Mariana Siqueira e Cláudia Pellicano, os diversos compartimentos paisagísticos e a criação de percursos foram responsáveis por valorizar o desenho da paisagem e, em especial, a conexão entre os edifícios projetados.
Pavilhão de Acesso | Estúdio MRGB
A primeira impressão dos frequentadores do “Na Praia” é fruto da apreensão dos espaços e das experiências obtidas ao circularem pelo Pavilhão de Acesso projetado pelo Estúdio MRGB. Dessa forma, o escritório buscou um desenho “singelo e austero, cuja horizontalidade, à exemplo das obras icônicas da cidade de Brasília, afirma sutilmente a sua presença discreta na paisagem”. A edificação tem a função principal de acolhimento e, a partir dele, orientar os usuários a desvendar as diversas atrações do complexo. Com 42 metros de frente, 15,50 metros de profundidade e 4,5 metros de pé-direito o Pavilhão de Acesso se apropriou do baixo impacto nas fundações gerado pela adoção do aço permitiu que a obra fosse construída sobre um grande radier. O ritmo e a cadência que expressam a linguagem arquitetônica do edifício foram estabelecidos pelo rigor da modulação da estrutura com vãos de 3,5 metros e 7,0 metros internamente no sentido longitudinal, de 4,25 metros transversalmente nos trechos junto à fachada frontal e posterior e, 7,0 metros no vão central, também no sentindo transversal.
As empenas laterais e os brises desenhados com a intenção de incorporar o bambu como elemento principal de fechamento e vedação promovem a atmosfera praiana pretendida pelos empreendedores do Na Praia. De igual maneira, o forro do Pavilhão constituído por peças lineares de bambu permite filtrar a luz que preenche o trecho central do pavilhão com uma iluminação natural difusa graças à adoção de coberturas translucidas de policarbonato compacto localizado na cobertura, no vão central e em toda a extensão do edifício. Em relação ao programa e necessidades o edifício abriga a bilheteria, sanitários, espaços de apoio e sala vip. As vedações desses ambientes foram feitas, na sua grande maioria, em compensado naval, à exceção das áreas molhadas que demandam maiores infraestrutura de instalação.
A intenção principal do projeto foi despertar nos usuários os mais variados aspectos sensoriais resultantes da combinação do rigor da estrutura, da sutileza da iluminação associados à rusticidade do bambu como material principal a configurar a materialidade do projeto.
Loja e Cafés, Vila Gastronômica e Bar de Cervejas | ARQBR
A edificação que abriga a loja e os cafés utilizou-se de estrutura metálica. Em planta, 7 vãos de 5 m no sentido longitudinal e 2 vãos de 6.5 m no sentido transversal, gera uma modulação de 5 x 6.5 m e orienta a organização dos espaços internos. A estrutura, pintada na cor branca, contrasta com o bambu natural, que se faz presente no forro, nas portas de acesso à loja e nos brises.
As edificações da Vila Gastronômica, que abrigam operações relacionadas à alimentação, quanto à sua materialidade, seguem o mesmo padrão da loja e dos cafés. Neste caso os vãos estruturais são diferentes, pois geram módulos de 4 x 8 m. É diferente também o desenho das vigas que vencem os vãos de 8 m, uma vez que, para este vão, foi necessário a utilização de treliças triangulares planas.
O Bar de Cervejas destaca-se pela utilização do bambu, unicamente, como elemento estrutural. Toda a estrutura é gerada a partir da composição de triângulos, que ora constituem vigas, ora constituem pilares, formando um conjunto estrutural coeso que se conecta ao chão sem tocá-lo, por meio de vergalhões chumbados em pequenas bases de concreto.
À racionalidade aplicada nas escolhas das estruturas e dos processos construtivos, se buscou associar, por meio do bambu natural, a “ambiência praiana” pretendida para a vila pelos idealizadores do festival. Por fim, Loja e Cafés, Vila Gastronômica e Bar de Cervejas, localizados em torno de uma praça que acolhe os visitantes, se relacionam pelos materiais e pela escala, dimensão humana que marca o caráter da arquitetura e do urbanismo de Brasília.
Barraca de Praia | Bloco Arquitetos
A Barraca de Praia foi projetada para abrigar um restaurante, bar, cozinha, uma área com chuveiros para os banhistas e banheiros públicos. Dentro do complexo, trata-se da edificação mais próxima ao Lago Paranoá, na cota mais baixa do complexo de entretenimento, já que a topografia natural desce levemente em direção ao lago. Dessa forma, o projeto também foi pensado de maneira a servir como um “marco visual” para parte do conjunto.
Foi definida uma malha estrutural básica de 3,00m x 3,50 que pudesse abrigar as variações necessárias de vãos livres para os diferentes programas da edificação. A mesma seção de 12x12cm do perfil metálico foi utilizada na maior parte de vigas e pilares, enquanto as áreas de banheiros e cozinha utilizaram vigas metálicas com seções maiores, necessárias para obter vãos livres de até 7m. Na área central do salão de mesas, o vão de 6 metros é obtido através da estrutura de um telhado tradicional de duas águas, com estrutura e contraventamentos transversais feitos com peças metálicas com a mesma seção dos pilares. A cobertura do salão funciona como um “exaustor” natural de ar quente através da ventilação cruzada entre as empenas vazadas no oeste e leste, no mesmo sentido dos ventos predominantes em Brasília. Sua cumeeira, o ponto mais alto da construção, fica a 8,80 metros de altura, o que faz com que sua forma sirva como marco visual dentro de um conjunto formado majoritariamente por construções térreas, de baixa altura. Sua função de "ponto de referência" na paisagem também pode ser observada a partir do espelho d'água do lago.
O bambu natural foi utilizado de diversas formas, desde brises ventilados ou sombreamento de teto, pérgolas vazadas descobertas, pérgolas cobertas por vidro a acabamentos de forro sob telhas isotérmicas. Os fechamentos leves em placas cimentícias ou placas de gesso definem os espaços fechados. A areia utilizada no paisagismo “cenográfico” da área próxima ao lago também foi adotada como forração para parte de piso do salão. Ali, a colocação das mesas se alterna entre áreas cobertas e descobertas, dispostas diretamente sobre a areia ou sobre pisos de concreto.